A escravidão virou inservidão salarial
Da saudade chão, brotou um banzo transcontinentalNasce mais 1, nascem 2, nascem 3
Nasce em todo lugar, nasce um príncipe, um rei
Nasce o escravo da lei
Nasce a mãe, nasce a filha de quem não nasceu pra chorarNasce o pai
Nasce o filho de santo gerado num ventre livre
Que descansa e desperta quando nasce o Sol
Nasce o Espírito Santo pra salvar nossa pele
Nasce a chaga da plebe, é mais um no futebol
Pra tentar, prosseguir, despontar, se iludir
Nem sonhar, desistir nem pensarNascimento e dor, o grito chama a alma
Pra realidade crua desse corpo nu
É muito louco, é mó sufoco
Viver um dia após o outro nesse mundo cãoÉ difícil pra gente que se divide
De viver num país que a gente nunca foi livre
Quando o livro da gente não vai pra escola
Uma história recente, que a minha alma ainda chora
Me ignora, eu sei que me ignora
A memória da gente vai se encontrar outra hora
É no espelho, é na roupa, é no seu neto, senhoraNa feijoada da quarta ao cafezinho na mesa
O caldo de cana gelado com pastel da feira
É na batida pulsante, do rock, do funk
No samba do chico, no tom do João
Eu quero que você cante pra mim
Dance pra mim
Veja o pandeiro imaginário rodando
É assim que a gente se sente é o preto
É o ausente, é a ausência de cor
É o preto na carne, é a dorNascimento e dor, o grito chama a alma
Pra realidade crua desse corpo nu
É muito louco, é mo sufoco
Viver um dia após o outro nesse mundo cãoAo olhar do tira e a dama que admira, tô na mira sempre
Como é curioso
Tô na mira sempre
Tô na mira sempre
Tô na mira sempre, como é curiosoBastardos inglórios, o cheiro de terra, menores na frente e
Atrás um monte de velas
Pretas e pretos nas telas, bicas e becos, favelas
Que nascem nas pistas e morrem nos fundos das celas
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